Foi no 20 de setembro de 1835 que os farroupilhas, liderados por Bento Gonçalves, venciam o confronto da Ponte da Azenha e entravam na província de Porto Alegre.
Iniciou-se a Guerra dos Farrapos, também chamada de revolução Farroupilha, o mais duradouro conflito armado da história do Brasil, que resultou na declaração de independência do Estado do Rio Grande do Sul, dando origem à República do Piratini, que durou cerca de sete anos.
De inspiração liberal, o levante teria sido motivado por causas políticas, militares, religiosas, e, especialmente, econômicas, pela carga tributária abusiva, cobrada pelo Império Brasileiro sobre a venda do charque e do couro, base da economia da então chamada província de São Pedro.
No mesmo período, ocorreram várias revoltas no Brasil, basicamente com os mesmos objetivos". A guerra "perdida" é comemorada não só pelo simbolismo do levante, mas pelos desfechos que não seguiu nenhum modelo conhecido na história dos povos: Não houve rendição, não houve presos, não houve processos judiciais e o "vencedor" pagou as contas do "perdedor".
Vertentes de historiadores, entretanto, evidenciam a Guerra dos Farrapos como uma das rebeliões da regência, que massacrou escravos negros em prol dos interesses econômicos dos estancieiros, uma insurreição de proprietários em defesa dos seus interesses.
Independentemente do ângulo que se observe o nosso 20 de setembro, existiam questões de clareza solar, ligadas a interesses regidos pela lógica econômica da época, trazendo na essência do movimento social, um povo articulado politicamente, detentor do conhecimento que a exploração do Império, sem contrapartida justa, traria invariavelmente o encolhimento e a eterna submissão da província.
Atualmente, seguimos contando histórias que não nos pertencem mais, as virtudes e vergonhas do 20 de setembro de 1835 embora tenham deixado muitas heranças culturais não são mais as norteadoras dos capítulos que escrevemos diariamente.
O Rio Grande do Sul encolheu, ainda se escuta nas rodas de conversas acompanhadas ou não do bom chimarrão, que o extremo sul do Brasil sustenta boa parte da economia brasileira, pura falácia. Representamos 6,2% da economia nacional, São Paulo por exemplo, responde por praticamente um terço do PIB do país.
Todavia, não podemos menosprezar a contribuição do nosso Estado, somos detentores da 4ª colocação no ranking nacional, sendo as cinco primeiras colocações do ranking, responsáveis por praticamente 70% do PIB do Brasil.
Não podemos sobremaneira, menosprezar a nossa capacidade de muito mais, primordialmente é necessário retomar a capacidade de enxergar nosso cenário nacional e o quanto o Rio Grande está sendo aviltado de forma covarde pelo governo federal há décadas.
Para os de memória curta, lembram do calote da Lei Kandir?
Após mais de duas décadas de uma batalha judicial incessante, de acúmulo de prejuízos aos Estados, depois de muitos bilhões perdidos, e de inúmeras promessas compensatórias pelo governo federal, somente agora, em acordo recentíssimo, os Estados começaram a receber compensações financeiras mínimas.
Os absurdos da nossa realidade são inúmeros, nosso custo de vida é elevado e desproporcional, para ilustrar um pouco mais, pagamos a água mais cara do Brasil, sem ter em contrapartida um serviço que atenda ao mínimo, somente um terço da população gaúcha tem tratamento de esgoto.
É hora de nos irmanarmos por mudanças, identificando e combatendo nossos algozes. Povo gaúcho, que não tem medo de trabalho, de desafio, que peleia diariamente na busca de um presente digno e de um futuro de colheita, meus cumprimentos e respeito, parabéns pelo dia do gaúcho.
Texto: Juliane Müller Korb
Advogado